quinta-feira, 23 de junho de 2011

A FÉ PENTECOSTAL



          Mais de um século tem se passado desde que irrompeu no mundo o chamado Movimento Pentecostal.
          Suas crenças e práticas remontam ao Dia de Pentecoste, mas sua aparição globalizada e sua institucionalização são fatos relativamente recentes, ou seja, datam de apenas um século.
Em sua edição do dia 03 de dezembro de 1906 o jornal “The New York American” deu grande destaque a “um novo movimento religioso, formado por negros e brancos” e ­­acrescentou:  “algo estranho está começando a acontecer”.
As primeiras igrejas de fé pentecostal no Brasil apareceram poucos anos depois. A Assembléia de Deus, por exemplo, nasceu em 1911. Durante os dias 16 a 18 de junho de 2011 ela comemorou exuberantemente seu centenário de fundação.
De acordo com uma estimativa do Hartford Institute for Religion Research, no ano de 2025 os pentecostais deverão ser 45 por cento de todos os cristãos no mundo. Rikk Watts, um pastor canadense, integrante da Assembléia de Deus e professor do Regent College, em Vancouver, Canadá declarou: “De cada 20 pessoas no mundo, uma é pentecostal”. 
Sob uma visão panorâmica e global, pode dizer-se que o Movimento Pentecostal está agora em sua terceira e crítica fase.
A primeira fase foi a das perseguições extremas, cujo resultado era uma busca a Deus incessante e piedosa. Todos os de dentro estavam espiritualmente unidos, porque todos os de fora estavam impiedosamente contra. Naquela surgiram as Convenções, voltadas para a Palavra, a Oração e o exercício do Amor Fraternal.
A segunda fase se caracterizou por uma espécie de “processo de acomodação”. Os missionários começaram a deixar os países nos quais abriram trabalho e dirigiram as primeiras igrejas e essas começaram a receber a simpatia das Denominações, inclusive das que ferrenhamente as combatiam anteriormente.
Nessa fase ocorreu um verdadeiro fenômeno: as outras igrejas começaram a se espelhar nas pentecostais e não somente assimilaram, como também reproduziram muitas de suas práticas.
A terceira fase tem outra marca: as mais antigas igrejas pentecostais começaram a perder sua identidade. Com o advento das néo-pentecostais passou a ser difícil identificar o que realmente significa a fé pentecostal, o que de fato significa uma igreja pentecostal.
Em umas igrejas falar em línguas é proibitivo. Noutras, não se fala de milagres. Outras não abrem mão da existência e prática dos dons espirituais.
Nas duas primeiras fases nunca houve “cultos de vitória”, “reuniões de milagres”, “campanhas da prosperidade”, “shows gospel”, etc., etc. Hoje tudo isto é parte da liturgia das igrejas ou de sua liturgia.
Alguns Círculos de oração continuam exuberantes. Mas, no geral, simplesmente estão desaparecendo e sendo substituídos por algumas novidades, muitas das quais importadas de arraiais que jamais provaram a verdadeira fé pentecostal.
Em muitíssimas igrejas, os círculos de oraçãonáopassam hoje de círculos de pregação. As memoráveis noites de vigília têm cedido gradualmente seu lugar aos “vigíllhões”, onde existe de tudo, menos oração. O ponto alto é a presença de uma celebridade do mundo dos pregadores e, com certeza, uma fertilíssima colheita de ofertas, destinada habitualmente aos mais variados propósitos.
Ademais, entramos na fase da abundância enloquecedoura de ministérios pessoais, uma prática de endeusamento e de culto à personalidade, que deixaria envergonhados e confundidos os apóstolos do primeiro século, caso pudessem aqui aparecer para isto testemunhar. Isto sem precisar falar das disputas que ocorrem por trás dos bastidores.
Reuniões de oração e de ensino foram a marca registrada da Igreja nos seus primeiros 50 anos. Eram prioridade absoluta. Hoje, são escassas como tal. Evangelismo pessoal foi a tônica da primeira fase. Evangelismo em massa, da segunda. Na terceira emerge com vigor o tele-evangelismo.
Escrevo esta crônica entristecido com a atitude de alguns pregadores notáveis que publicamente zombam de certas práticas pentecostais, como se fossem heréticas. Esquecidos estão das verdadeiras origens deste grande Movimento do Espírito. Ser simples na Bíblia é assunto de honra. Para alguns hoje é matéria de galhofa.
Nossas fragilidades jamais tirarão o brilho da legítima grandeza do operar de Deus. Quaisquer que sejam o “marketing”, a metodologia e o sistema usado por alguns, vale lembrar que línguas estranhas, interpretação, revelações, dons espirituais, oração por enfermos, expulsar demônios, etc., não foram retirados da Bíblia nem abolidos da Igreja.
Devemos todos ser moderados, prudentes, respeitosos e éticos no tratar com as coisas divinas. A fama freqüentemente é uma bebida forte, altamente fermentada, que embriaga impiedosamente. O luxo das “catedrais” não deve apagar a memória dos “casebres” insalubres, dentro dos quais receberam o seu Pentecoste os pioneiros, os fundadores e os pais daqueles que hoje levam as massas ao delírio.
Pregadores há que insultam os pastores, porque nunca o foram.
O dever de ganhar almas inclui basicamente o cuidado para não perdê-las.
Os jovens que hoje vendem saúde não podem espezinhar os velhos que perderam a sua, no labutar diuturno em busca de resultados para o seu ministério, executado antes da era da internet e dos “acessórios” que a coroam. Tudo que se tem hoje é colheita do que ontem se semeou.
As 3 gerações do Movimento Pentecostal no mundo e, particularmente no Brasil, lembram os três grandes patriarcas do passado.
A primeira geração cultivou piedosamente a fé que dominava o espírito de Abraão. A segunda foi a herdeira da bênção, como Isaque. A terceira tem grandes e graves semelhanças com Jacó, o homem das barganhas, dos conchavos e das “lambanças”.
O político e ecologista carioca Alfredo Sirkis referiu-se recentemente à “sua terrível experiência negativa com vários políticos pentecostais que conheceu, alinhado às piores práticas do parlamento e da administração pública” Que o diga o escândalo da CPI dos Sanguessugas.
Para que a presente geraçäo esteja apta a subir no Dia do Arrebatamento, é de esperar uma revolução espiritual, um novo “vau de Jaboque”, para que de lá saia, não um Jacó acostumado à politicagem, à matreirice e às barganhas, mas um Israel, um príncipe do Senhor, um cidadão comprometido com Betel, um adorador que profetiza para o seu povo as sublimes palavras do Grande Senhor e Deus.
Se somos pentecostais, que o sejamos. Não apenas por tradição, nem para ganhar a simpatia de milhares, mas porque dentro de nosso coração ferve uma experiência gloriosa que tem atravessado os séculos e que merece muitos nomes, um dos quais é a fé pentecostal.

6 comentários:

Ev. Glauko Santos disse...

BENDITO É O SENHOR JESUS !
Nobre Pr. Geziel:
Passando por aqui agora, encontrei esse artigo.
Ele me fez arder o meu coração, lacrimejar os meus olhos e mover com o meu espírito.
Fui literalmente encontrado nos confins da cortina do budismo de linha chinesa (1980); o mover do Espírito Santo me salvou; fui batizado com Ele diante de mais de 20 idosas crentes piedosas simples, entre as quais 5 sem qualquer grau de escolaridade profetizaram "te tirei de detrás da cortina de bambu para te fazer um pregador e ai de ti se retornares para trás". (1984)
Meu primeiro pastor, meu pai na fé, testifica isto - Pr. Lucena Bispo (AD Engenho de Dentro, RJ).
BENDITO É O SENHOR JESUS QUE SALVA E BATIZA COM O ESPÍRITO SANTO, PREPARA, ENVIA E LEVA PARA O CÉU !
Pb. Glauko Santos,
AD do Almerinda,
São Gonçalo-RJ.

Pr. Henrique Jorge disse...

Parabéns pelo texto que descreve com muita beleza a dinâmica histórica do movimento pentecostal, mas que expressa com profundidade o descontentamento profético que abrigamos em nossos corações.

Em outubro deste ano estaremos realizando um Congresso Profético que abordará o tema DÍVIDA PROFÉTICA. O discipulo de profeta que morreu e deixou uma dívida que humanamente não poderia ser paga, somente pela milagrosa multiplicação de azeite.

Estaremos falando da divida teológica, da divida ética, da dívida missionária, etc. será um esforço para de alguma maneira atrairmos a misericórdia de Deus sobre nossa geração.

Deus continue lhe usando grandemente!

Igreja do Avivamento as Nacoes disse...

Parabéns Pastor Geziel por esta matéria, que como as outras expressa a veracidade dos fatos emergentes em nossa sociedade pentecostal.
Eu tive o privilégio de nascer em um berço evangélico, aceitei a Jesus aos 5 anos, com 6 fui batizado com E.S., aos nove batizado em aguas, consagrado ao ministério aos 18 anos. Hoje, após 25 anos, arde em minha vida ainda e com mais vigor esta chama da fé pentecostal.
Desejo que com este blog possa ser ressucitado em muitos o que dantes os motivara a realizar a obra.
Deus lhe recompense mais e mais!

Apóstolo Geziel Filho
Ministério de Avivamento as Nações
Miami, Florida

Administrador disse...

A Paz do Senhor querido e prezado Pastor!

Fiquei muito feliz em conhecer o seu blog, sempre admirei o senhor como "homem de Deus". Herdei esta de meu pai, Pastor da Assembleia de Deus, o qual deu o nome de Gesiel ao meu irmão, pois muito o admirava. Parabéns pelo seu site e blog, os estudos são maravilhosos.

A paz do Senhor

Ev.Eliel Toledo
Tupanciretã/RS

Rafael Santos disse...

Um grande artigo.
Muitos pastores de hoje estão apenas colhendo do que se foi plantado tempos atrás.
Não esqueçamos dos trabalhos árduos dos pioneiros pentecostais.

Unknown disse...

Pr Geziel,
Achei divinamente inspirado esse artigo. Que o Espírito de Deus continue te usando com ricas palavras.