sexta-feira, 11 de maio de 2012

HOMENAGEM A UMA MÃE


Ela tem hoje noventa e dois anos.
Sua voz continua firme, embora seus ouvidos ouçam bem menos, principalmente ao telefone.
Restam ainda muitos fios de cabelo em sua cabeça, embora as pernas que sustentam seu corpo tenham perdido quase todo o seu vigor.
Admira-me sobremanera a exuberante memória que conserva, pois é capaz de recordar fatos e pessoas de hoje, de ontem e de muito tempo atrás.
“Os que olham pelas janelas”, como declarou Salomão já não observam tudo, especialmente depois de uma cirurgia mal-sucedida, realizada duas décadas atrás.
Fala com tanta ternura de seus inesquecíveis esposo e filho que partiram, como se houvessem deixado o seu conviívio apenas há alguns dias, quando em verdade se foram respectivamente há cinquenta e vintes anos.
Seu par de filhos vivos significam seu grande tesouro, depois do Maior, que mora acima das estrelas.
Viveu em uma época em que somente se usava a palavra pastora para recordar Raquel, a sempre=amada esposa de Jacó.
Mas sem dúvida ela também o foi, ao lado de seu esposo, pastor por meio século neste País. Tratava a todos como filhos diletos e nunca lhes negou amizade, gentileza, generosidade e apoio, ingredientes que se somavam a um coração totalmente cheio de hospitalidade, como ainda hoje o é, mesmo faltando menos de dois lustros para alcançar o seu centenário.
Mãe de 3 filhos legítimos, ofereceu os atributos únicos da maternidade a centenas de outros, muitos dos quais ainda vivem e recordam com saudade essa filiação postiça, perfumada com a graça do verdadeiro amor e o odor de uma dedicação acima de todos os preços e imune a todas as adversidades.
Pouco visitada, nesta quadra da vida, sente diuturnamente a presença do Amigo mais chegado, cuja Palavra recorda mais com a mente que com os olhos, visto que contempla pouco, mas assimila muito.
Neste Dia das Mães pareceu-me justo homenageá-la, desejoso de que estas palavras tenham o sentido de flores da minha gratidão.
São as rosas do meu reconhecimento a uma vida de pureza e grandeza, de piedade e santo fervor.
A dívida que lhe tenho é impagável, embora saiba que tudo fez (e continua a fazer) por amor, sem jamais esperar qualquer coisa em troca, nem mesmo a menor das migalhas.
Parabens a essa mãe muito especial, primus inter pares, uma Abigail dos tempos modernos, uma Sara contemporânea, uma quase desconhecida Ester.
Minha homenagem a uma mãe modelo, a uma mãe padrão, a uma mãe exemplar.
Estou falando da sogra da minha esposa, da avó dos meus filhos, da bisavó dos meus netos.
Estou falando de minha MÃE.